Um processo ao alcance de todos
O óleo usado na gastronomia é um produto de uso doméstico e portanto muito difuso em todo o mundo. Nos últimos tempos, seus resíduos se transformaram em objeto de pesquisa, devido ao fato de ser altamente poluente.
A reciclagem de óleo de cozinha utilizado em frituras pode parecer banal, mas um pequeno passo, no sentido de que é muito simples o seu processo de transformação, é de grande importância para a preservação do meio ambiente.
O óleo de cozinha utilizado em nossas casas geralmente acaba jogado fora na pia, o que causa entupimentos na tubulação sendo necessário o uso de fortes produtos químicos para desentupi-la, encarecendo em aproximadamente 45% o tratamentos de resíduos. Em áreas sem tratamento de esgoto, esse óleo vai parar em rios e represas provocando a impermeabilização dos leitos, o que contribui para as enchentes, como também cria uma película na superfície da água impedindo sua oxigenação causando danos às espécies aquáticas. Jogado diretamente no solo, além de impermeabilizá-lo, chega ao lençol freático contaminando fontes naturais de água potável. Em decomposição, o óleo libera gás metano, que contribui mais para o efeito estufa que o CO², além de causar mau cheiro.
No Brasil, a reciclagem do óleo de cozinha tem atraído muitas universidades, organizações não governamentais e empresas privadas que a estão transformando em fonte de renda. O óleo reciclado pode transformar-se em resina para tintas, sabão, detergente, glicerina, ração para animais, biodiesel.
Já é grande o número de bairros e cidades que tem programas de coleta de óleo de cozinha, partindo tanto de iniciativas privadas como públicas. Em Ribeirão Preto – SP, a USP através do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas implantou na cidade o projeto Cata Óleo, que é um programa de coleta em bares e restaurantes e espera atingir 160 mil litros por mês. Em troca do óleo utilizado, o laboratório faz análises periódicas no óleo que está sendo utilizado por estes restaurantes e bares para ver se está dentro dos padrões de consumo humano, se sim, o restaurante ganha um selo de qualidade. O óleo coletado é usado na produção de biodiesel. A USP também foi premiada pelo projeto Jovens Embaixadores Ambientais do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
À parte a discussão sobre a mudança de matriz energética, existe uma dimensão social da reciclagem do óleo e da produção local de biodiesel que apresenta muito potencial em contextos onde a degradação social agrava e é agravada pela degradação ambiental.
A coleta e o uso do óleo de cozinha em escala local para a produção de pequenas quantidades de biodiesel que possa ser usado por exemplo, para o abastecimento de tratores em propriedades rurais ou em barcos de pesca em comunidades de pescadores, pode gerar renda ou simplesmente proporcionar uma economia significativa para famílias desvantajadas. Além disso, contribui para a sensibilização e difusão de práticas ecologicamente saudáveis que afetam diretamente a vida cotidiana da população. Para isso, pequenas usinas construídas em parcerias com universidades ou programas públicos podem funcionar com processos simples e adaptação de motores que originalmente funcionavam a diesel ou gasolina.
www.cepagro.org.br
www.setorreciclagem.com.br
www.biodieselbr.com
Priscilla Bitencourt, Fernanda Secco, Nicola Simboli, Valentino Aleotti, Sara Blandolino, Roberto Tinella, Valeria Groppo, Francesca Indolfi.